quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A BÍBLIA E A HOMOSSEXUALIDADE



 
Os cristãos, em geral, têm vários preconceitos e tabus sobre a sexualidade humana, que herdaram dos judeus. E a sexualidade judaico-cristã é machista-patriarcal. Entre os judeus do período bíblico a mulher era um ser subumano, pertencia ao pai e depois ao marido. Podia ser rejeitada pelo esposo, mas jamais poderia rejeitá-lo. Se o homem quisesse ter outras esposas ou mesmo amantes (concubinas), ela teria que tolerar. E se o marido achasse que a esposa estivesse traindo-o, mas sem provas, deveria comparecer perante o sacerdote e fazer um ritual (como figura no Pentateuco) no qual Deus apontaria se a mulher era adúltera, e assim ela poderia ser apedrejada, mesmo sem provas do adultério. Num contexto tão machista, fica óbvio que um judeu jamais poderia ser tratado como mulher, se submetendo ao homoerotismo, sendo penetrado por outro homem. E assim o livro de Levítico traz uma lei que condena a relação sexual entre dois homens. Tal livro nem menciona a relação sexual entre duas mulheres. Elas nem merecem atenção, pois até Deus, Javé, é macho, então mulher é apenas um objeto para o homem descarregar seu desejo sexual e fazer filhos. Essa é a mente do Judeu.

O Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) não foram escritos por Moisés, como muitos fundamentalistas afirmam, pois Moisés não poderia escrever sobre sua própria morte. E existem tantos textos diferentes no Pentateuco que fica óbvio que foram escritos por vários autores, em épocas diferentes. E assim as leis de moralidade sexual de Levítico tem um contexto específico, foram escritas no período exílico, pelos sacerdotes exilados na Babilônia. Esses sacerdotes observavam os costumes babilônicos e tinham nojo e rejeição a eles, então escrevendo leis de pureza e impureza para seus compatriotas exilados, para que eles pudessem ganhar novamente a afeição de Javé e serem libertados do cativeiro e voltarem para a terra prometida. Quem ler Levitico a fundo verá que ali existem leis religiosas que não têm aplicação nenhuma hoje, nem no contexto cristão. Mas por que será que ainda persiste a rejeição à homossexualidade masculina?

Alguns cristão afirmarão que pautam seu preconceito nas afirmações de Paulo. Quem era Paulo? Um fariseu convertido ao cristianismo. Um judeu bastante machista, como muitos outros cristãos judeus. Na cultura helênica, entre os povos que Paulo evangelizou, havia uma expressão específica de homossexualidade muito comum entre os homens: a pederastia, onde um homem mais velho se torna tutor de um adolescente, e este lhe presta favores sexuais. E Paulo coloca exatamente os termos judaicos rabínicos que se referiam à pederastia em suas duas únicas menções da homossexualidade masculina: em Romanos e em I Coríntios. Paulo nem menciona homossexualidade feminina, como alguns querem forçar no texto de Romanos, onde Paulo está mencionando o sexo anal para as mulheres. Paulo relaciona a pederastia masculina grega com o fato de serem pagãos. A idolatria perverteria os homens e os levaria a ter desejos de cometer pederastia (que é uma expressão da pedofilia com adolescentes). Essa era a mesma idéia de rabinos fariseus, contemporâneos de Paulo, que conheciam muito bem a cultura grega. Até entre os gregos havia uma grande discussão filosófica onde um grupo, adepto da pederastia, afirmava que verdadeiro amor só ocorre entre dois homens, dois iguais, onde o sexo seria natural, e a mulher, por ser inferior, só serviria para procriação. Nessa discussão filosófica havia um grupo contra, que afirmava que verdadeiro amor só entre um homem e uma mulher, e que sexo entre dois homens seria anti-natural. Paulo entre nesse contexto de discussão filosófica grega e de moralidade judaica rabínica!
Diante de tudo isto, vê-se que os poucos versículos bíblicos que abordam negativamente o homoerotismo masculino (não abordam a homo-sexo-afetividade, como entendida hoje, enquanto orientação sexo-afetiva) estão num contexto judaico-cristão machista, culturalmente limitado e específico, sem grandes conhecimentos científicos, apenas baseado no senso comum da época, senso este validado pela religião. Hoje a homossexualidade ou homoafetividade é bem melhor conhecida, estudada e entendida, não podendo rechaçada por simples argumentos falaciosos e preconceituosos.

Como diz a própria Bíblia, em I João, Deus é amor e quem ama permanece em Deus. Se um homem ama um homem e se uma mulher ama uma mulher, eles e elas permanecem em Deus, e a expressão desse amor pode ser inclusive genital, pois sexo para Deus não é pecado, especialmente quando abençoado pelo amor!

 
Aurelio de Melo Barbosa, Coordenador da PDS, Fev/2011

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