sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O PORQUÊ DO PRECONCEITO



Qual a razão de tanta rejeição das pessoas homofóbicas para com pessoas LGBT’s?

A razão é simples: machismo! E tanto mulheres, quanto homens são machistas!

Em nossa cultura, herdeira das culturas judaica e greco-romana, há uma distinção bem específica de papeis e identidade de gênero, do que é ser macho e do que é ser fêmea, do que se deve vestir, aparência física, corte de cabelo, uso de adereços e maquilagem, atitudes e posturas, gestos, profissões, papéis familiares, etc. E essa distinção em si acaba sendo problemática devido ao machismo, que é milenar, falacioso e péssimo.

A mulher é considerada inferior ao homem. As mulheres se consideram inferior e os homens também assim pensam. É esse machismo que considera o homoerotismo e a identidade transgênero uma aberração. “Como pode um homem ser mulherzinha de outro homem, ser penetrado por outro homem, fazendo-o de fêmea? Como pode uma mulher fazer papel de homem com outra mulher? Como pode um homem se travestir de mulher? Como pode uma mulher se travestir de homem? Fazer cirurgia de mudança de sexo então, nem pensar, que absurdo!”

E quando aqui fala-se de machismo, não se deve pensar apenas que heterossexuais são machistas. As pessoas LBGT’s também são machistas e preconceituosas: “Nossa, como é chato essas bichas se desmunhecando, isso prejudica a imagem de homossexuais que são discretos! A gente faz tanto esforço para passar desapercebido nos meios sociais e vem essas bichinhas se quebrando e denegrindo a imagem daqueles que tentam se aceitáveis socialmente”...

Bem, o preconceito está aí! E ele é resultado da tentativa de padronização do comportamento humano, onde só pode haver “mulher fêmea passiva subordinada” e “homem macho ativo opressor”. Não há espaço para a androginia, para a multiplicidade de papéis, de comportamentos e de aparências. Não há espaço para bichas, para travestis, para sapatonas caminhoneiras, para bissexuais poligâmicos. Uma bicha se desmunhecando é um agressão aos olhos sensíveis de homens e mulheres de família, para gays e lésbicas de famílias.

Uma outra desculpa para o auto-preconceito é a questão dos esteriótipos. Eles são machistas e de visão limitada. Quem consegue perceber a diversidade humana, verá que existem homens heterossexuais andróginos afeminados e homens homossexuais “machões”, mulheres homossexuais afeminadas e heterossexuais andróginas másculas, homens homossexuais afeminados, mulheres homossexuais másculas, homens heterossexuais másculos, mulheres homossexuais afeminadas, além de muitas outras matizes de comportamento social, sexual, cultural e afetivo. Não existe apenas um padrão de heterossexual e de homossexual. Existem inúmeros padrões. O problema é a miopia, é a incapacidade perceptual imposta pelo machismo, onde “pessoas de família” não conseguem perceber muito além do próprio umbigo e acham que só existem um único jeito de ser família, um único jeito de ser cidadão, um único jeito de ser humano.

É necessário que as pessoas LGBT’s percebam esse preconceito existente dentro de si e tentem combatê-lo. Cada um deve ser do jeito que é, não há necessidade de mudanças de comportamento, mas é preciso a aceitação do outro, para que haja a convivência. Como ser aceito e respeitado se eu não aceito e respeito o outro, do jeito que ele é? Claro que existe um conselho do Apóstolo Paulo em uma de suas cartas, na bíblia: tudo posso, mas nem tudo me convém! Cada um deve se comportar de maneira a não ofender o outro, respeitar para ser respeitado. Mas isto não quer dizer padronização. O respeito e a autenticidade podem caminhar juntos. Respeitar não quer dizer aceitar as imposturas do outro. O respeito deve vir da consideração pelo outro e essa consideração tem que ser em mão dupla, preferencialmente, mas se não for, que seja você o primeiro a respeitar e considerar o oponente com carinho e amor!

Dentro de todo esse contexto entra a Igreja, e aqui especialmente a Paróquia Anglicana de São Felipe com sua Pastoral da Diversidade Sexual, para mostrar que existem muitas maneiras de ser humano, para tentar curar o preconceito através de educação, confronto com a diferença e vivência mística.

Aurelio de Melo Barbosa – Janeiro de 2011.

Nenhum comentário:

Postar um comentário