terça-feira, 27 de abril de 2010

ABORTO SIM, CASTRAÇÃO NÃO.


Os dados quantitativos de abortos no Brasil e na América Latina são alarmantes. Pensar que no Brasil tem mais de 1 milhão de seres humanos ao ano que são impedidos de viver antes nascerem, nos impõem uma grande reflexão sobre nossa responsabilidade nesse complexo mundo em que vivemos.

Recentemente uma pesquisa socioeconômica do IPEA, divulgada na mídia em maio de 2008, vem reafirmar aquilo que já é de nosso conhecimento histórico brasileiro: 75% das riquezas brasileiras estão nas mãos de apenas 10% da população.

O acúmulo de riquezas, como se sabe, é sempre gerador de miséria, doenças e morte. Quando se imagina que 90% da população brasileira terão de viver com apenas 25% da riqueza sobrante, mudamos completamente o eixo da consciência que se necessita ter para preservação da vida humana e da vida de nosso planeta.

Pouco se pergunta a respeito da possibilidade de vida daqueles milhares de bebês, que nascidos (não abortados portanto) não conseguem atingir o seu primeiro ano de vida, em função da miséria e da fome, a que são submetidos por essa grave e pecaminosa concentração de renda que muitas vezes é legitimada pela nossa conduta cristã ocidental.

E quando se defende ardentemente o direito a vida ao que ainda não nasceu e não se permite o mesmo direito a quem já é uma existência, estamos diante de uma grande retórica que possui profundos comprometimentos com uma negação da sexualidade pelo prazer/gozo e um grande descaso a respeito da vida daqueles que a concentração de renda (inclusive das Igrejas) não permite festejar o primeiro ano de sua existência.

Atrás dos 1 milhão e meio de abortos ano que ocorrem no Brasil, existe uma grande culpa social e uma grande responsabilidade das famílias, escolas, Igrejas e estado como um todo, que não cooperam para que haja desde a tenra idade, educação e acessibilidade aos métodos anticoncepcionais. A sexualidade sempre foi vista pela tradição cristã como apenas uma tarefa da procriação humana. O prazer do gozo do sexo nunca foi estimulado. Contra o gozo se fortaleceu a idéia da castração

A castração da sexualidade tem vitimado muito mais homens e mulheres do que as práticas abortivas. Por que o prazer conflita com o poder? O grande "falus" das instituições religiosas querem sempre sufocar o gozo dos indivíduos. Jovens, homens, mulheres, padres, bispos, papas, pastores, reverendos, freiras, frades, pobres, ricos, todos precisam gozar e desfrutar do sexo como uma das grandes fontes de prazer - talvez para a grande maioria de empobrecidos, a única fonte de gozo.

Se o cristianismo se preocupasse menos com o controle da sexualidade de seus fiéis, quem sabe poderia preocupar-se mais com seu papel profético, onde com forte atuação poderia cooperar para um grande projeto de distribuição de renda, que traria junto de si uma revolução educacional, onde cada qual teria a possibilidade de planejar sua prole e de incorporar TODOS os métodos ante-conceptivos, impedindo assim essa desenfreada prática abortiva.

Enquanto o feto estiver sendo gestado, é a mãe deste “ainda não ser” que deve decidir pela sua existência ou não. A mulher precisa ser respeitada no seu direito de abortar ou não. O CORPO DA MULHER PRECISA SER RESPEITADO. Pois será ela o colo e o principal seleiro de onde o recém-nascido irá buscar a força para se construir como pessoa, como ser humano, como cidadão.

Por Elias Mayer Vergara, OST.

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