sexta-feira, 23 de abril de 2010

Somos uma Igreja Sacramental


Sacramentos
A Igreja nos ensina que os sacramentos são meios de graça, ou seja, são formas através das quais o amor salvador de Deus chega até nós. A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil ensina que um sacramento é um sinal externo visível de uma graça interna espiritual.

Isto pressupõe que um sacramento é dividido em duas partes. A primeira parte da definição de sacramento é caracterizada pelo uso de gestos e elementos concretos que sentimos e enxergamos e que apontam para uma realidade maior.

A segunda parte do sacramento, às vezes, é mais difícil de ser percebida. Ela acontece dentro de nós sem que possamos medir sua intensidade. Por isso, é interna. Nós não a vemos, mas ela acontece de modo maravilhoso. Por isso, é espiritual. E isso tudo não acontece porque nós queremos ou fazemos alguma coisa. Trata-se de um presente, um dom de Deus, uma graça oferecida.


Santo Batismo

Qualquer pessoa que tenha participado de uma celebração do Santo Batismo deve ter percebido o uso de elementos visíveis que tentam traduzir o profundo simbolizo da iniciação cristã marcada por esse sacramento. A água, o óleo e a vela (círio) são os sinais externos visíveis. A água simboliza a morte para o pecado e o ressurgir para uma nova vida. O óleo simboliza a unção (escolha) do Espírito Santo que nos consagra para essa nova vida. Por fim, a vela batismal simboliza a luz do Cristo ressurreto e vitorioso que nos ilumina nos caminhos da vida.

O sacramento do Batismo é único, só acontece uma vez. Deve ser preferencialmente realizado na celebração principal da comunidade, num sinal do compromisso de toda a comunidade com a pessoa que se agrega à família do Senhor.


Santa Eucaristia

A vida de adoração da Igreja é centrada na Santa Eucaristia, na Santa Comunhão do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Livro de Oração Comum afirma que a Santa Eucaristia é o ato central de adoração do povo de Deus
Ao participarmos da mesa eucarística, experimentamos a graça da comunhão maravilhosa com Deus, nutrindo-nos, por sua presença real, nos dons do pão e vinho. Nós não explicamos onde está e quanto de Deus há no pão e no vinho. Apenas afirmamos que sacramentalmente nos alimentamos do próprio Deus que se oferece a nós por seu infinito e misericordioso amor. Pão e Vinho são os sinais externos visíveis da graça interna espiritual da presença de Cristo em nós, quando Dele nos nutrimos.

A Santa Eucaristia é um sacramento de unidade, “pois embora muitos, somos um só Corpo.” A comunidade reunida celebra a presença viva de Cristo no sacramento do seu Corpo e Sangue; é o alimento do povo de Deus e o requisito essencial para participar deste banquete da família de Deus é ser batizado, é ser membro desta família. A Santa Eucaristia é um sacramento permanente, que nos acompanha em toda a nossa vida de fé e discipulado. Na Mesa do Senhor somos todos iguais, aceitos por Deus que nos reúne, nos alimenta e nos envia ao mundo para viver e proclamar o seu amor.


Confirmação

Nos primeiros tempos da Igreja a Confirmação não era distinta do Batismo. Com início da prática do batismo de crianças, foi necessário a existência de um outro ato sacramental que marcasse o compromisso pessoal, público e definitivo com Jesus Cristo e sua Igreja. As promessas da Confirmação são muito semelhantes as do Batismo.

Para muitos, a Confirmação é o sacramento da maturidade cristã, ou ainda para alguns, uma espécie de “ordenação ao laicato pleno” da Igreja. Isto significa que a Confirmação deve ocorrer quando uma pessoa quer real e conscientemente , de vontade livre e espontânea, assumir o compromisso da vida cristã em uma paróquia ou missão da Igreja. ? um sacramento único e permanente, pois só acontece uma vez na vida.

O sinal externo neste sacramento é a imposição das mãos, pelo Bispo, sobre a cabeça do(a) confirmando(a), ungindo-o(a) com um óleo apropriado, chamado de crisma.

O sinal interno da Confirmação é o dom do Espírito Santo, graça inestimável de Deus que nos habilita, ampara e sustenta numa vida de discipulado e compromisso com o Reino.

Não há idade mínima ou máxima, o critério é o discernimento. O requisito básico é a pessoa ser batizada. Deve haver instrução prévia das pessoas candidatas à Confirmação. É recomendável que a pessoa seja comungante e que tenha algum tipo de envolvimento na comunidade.


Reconciliação de um penitente (Confissão)

Vivemos num mundo de exclusão. Pessoas se vêem separadas e distantes umas das outras sem mesmo saber o porquê. Na compreensão cristã o pecado é o afastamento de Deus e dos irmãos/irmãs. Há um rito sacramental na Igreja que busca a reconciliação, possibilitando a cada pessoa um retorno, um reencontro consigo mesma, com as outras pessoas e com Deus. Trata-se do sacramento da Confissão ou mais modernamente, a Reconciliação de um Penitente.
A experiência de partilhar os problemas, as angústias e os erros na comunidade cristã é muito antiga. A própria Escritura exorta as pessoas cristãs à confissão mútua e a solidariedade irrestrita (“confessai-vos mutuamente” e “carregai os fardos uns dos outros”). O pecado caracteriza-se pela experiência do afastamento de Deus e daqueles que nos cercam. A liturgia da Igreja afirma na fórmula da confissão comunitária que “...os pecados que temos cometido por pensamentos, palavras, obras e omissões, contra ti, contra o nosso próximo e contra nós mesmos...”. Isso significa que o pecado tem conseqüências pessoais e sociais, pois rompemos com Deus e com as pessoas, além da “ferida” que causamos em nós mesmos.

A intenção da reconciliação é restaurar a comunhão perdida, trazer de volta a pessoa ao seio da comunidade, com a dignidade recuperada e experimentando o perdão. Na prática pastoral da Igreja, a confissão auricular (literalmente, ao ouvido) sempre foi realizada diante de um ministro da Igreja, geralmente um presbítero. O caráter sacramental é marcado pelo processo de arrependimento, confissão e absolvição. A declaração de absolvição pelo ministro é o gesto sacramental da reconciliação da pessoa penitente. Este rito sacramental da Igreja não é um julgamento nem mera punição, mas acolhida, perdão e restauração.

Na fórmula anglicana deste rito o(a) presbítero(a), ao final num sinal de fraternidade solidária, despede o penitente em paz e pede que este ore por ele, presbítero, também um pecador.

Não há um local específico ou especial, embora realizar este rito sacramental junto ao altar de Deus seja bastante significativo, mas o mais importante é que o sacerdote lembre-se de que ele é, acima de tudo, um sinal do amor reconciliador de Deus para com a pessoa penitente.


Santo Matrimônio

O ser humano não foi feito para viver sozinho. Só nos tornamos mais plenamente humanos quando compartilhamos a vida com alguém. Uma das formas de experimentar uma comunidade de amor é o casamento ou matrimônio. O Livro de Oração Comum afirma que a procriação não é a meta principal e exclusiva do casamento. Pelo contrário, em primeiro lugar está a edificação mútua e a ajuda e consolo recíprocos em qualquer situação. Por fim, havendo possibilidade, deseja-se a procriação dos filhos e sua educação no conhecimento e no amor de Deus.

O sinal externo do matrimônio é marcado pelas promessas solenes, pela entrega e recepção de alianças e pela união de mãos entre os noivos, além da declaração de casamento pelo(a) presbítero(a). O sinal interno é a benção de Deus sobre a união do casal que decide aceitar o amor de Deus em sua vida conjugal.

O sacramento do matrimônio sempre foi compreendido como um sacramento permanente e único, para toda a vida. Porém, com as constantes transformações nos valores e padrões culturais, sociais e familiares, com o advento e a legalização do divórcio, e seu reconhecimento pela Igreja Anglicana, foi permitido as pessoas uma nova oportunidade, uma outra possibilidade de refazer sua vida conjugal. As segundas núpcias são precedidas de um cuidadoso processo de acompanhamento pastoral, que passa, inclusive, pelo Bispo diocesano e deve ter um parecer favorável deste para que possa ser efetivado legal e sacramentalmente.


Sagradas Ordens

A vocação cristã que recebemos no Batismo pode ser vivificada de várias formas. Uma delas é o Ministério (serviço) Ordenado. Na Igreja Anglicana, esse Ministério é caracterizado por três ordens distintas, porém complementares entre si: diaconato, presbiterado e episcopado.

Costumamos dizer que Deus é quem desperta a nossa vocação, quem nos chama, mas é a Igreja quem nos ordena, nos separa/prepara para o serviço de Deus no mundo. Nenhuma pessoa é ministra ordenada de si mesma, por si mesma ou para si mesma. A Ordenação é concedida, recebida e reconhecida pela Igreja.

Em todo chamado há uma escolha, uma eleição, devendo ser sempre respaldada pela comunidade de onde provém o(a) candidato(a). Isto atesta que o ministério é de toda a Igreja, visando o bem comum e caracterizando a diversidade de serviços e dons.

Ao recebermos a ordem, num solene e público ofício de ordenação, assumimos um compromisso com Deus e com a Sua Igreja. Diante da Igreja reunida ocorre o reconhecimento público do chamado ministerial e uma delegação, também pública, de poder, autoridade e serviço ao povo de Deus.


Unção dos enfermos

A origem dessa prática é bíblica, conforme a Carta de São Tiago, no capítulo 5, versículos 13-16. A unção com óleo (azeite) sempre significou um gesto de restauração e cura. Simboliza o Espírito de Deus que restaura e renova a saúde e o vigor das pessoas enfermas.

O ministro unge com o óleo a fronte (testa) e as palmas das mãos da pessoa enferma, num sinal de cura e restauração daquilo que a pessoa sente, pensa e faz.

A imposição de mãos e unção com óleo não é realizado apenas como extrema unção, quando alguém está a à beira da morte. Ao contrário, ela nos acompanha em nossa vida. é um sacramento de salvação total, da saúde integral do ser humano: é um sacramento de esperança, sinal da presença concreta de Deus na vida do enfermo.

A Unção dos Enfermos é também um sacramento comunitário da restauração do corpo da Igreja pois conforme nos diz São Paulo “se um membro do corpo sofre, todo os membros do corpo compartilham do seu sofrimento” (I Coríntios 12:26). Quando este sacramento é celebrado nos lares das pessoas enfermas, toda a família é convidada a participar. Não existe obrigatoriedade ou incompatibilidade litúrgica no fato de que a Unção dos Enfermos seja ministrada junto com a santa eucaristia, ficando a decisão a critério do(a) presbítero(a) ou de acordo com a orientação pastoral do bispo diocesano.

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Adaptado do artigo “A prática pastoral dos sacramentos” do Rev. Eduardo Coelho Grillo.
Imagens sob a GNU Documentation License.

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